segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS de Neville Goddard

Com tão vasto assunto, é realmente uma tarefa difícil resumir em algumas centenas de palavras o que considero as idéias mais básicas em que os que buscam uma verdadeira compreensão de si mesmos devem concentrar-se. Vou fazer o que posso através de três princípios fundamentais: Auto-Observação, Definição de Objectivos e Desprendimento.

O objectivo da verdadeira compreensão é provocar uma mudança radical de renascimento no indivíduo. Tal mudança não pode ocorrer sem que primeiro o indivíduo descubra o Eu que deseja  mudar. Esta descoberta pode ser feita somente através de uma observação acrítica das suas reações à vida. A soma total destas reações é que define o seu estado individual de consciência, e é seu estado individual de consciência que atrai as situações e circunstâncias de sua vida.

Assim, o ponto de partida, em seu aspecto prático, é a auto-observação, a fim de você possa descobrir as suas reações à vida, reações que formam o seu Eu secreto – que é a causa dos fenômenos da sua vida.

Como Emerson, eu aceito o fato de que "o homem está cercado pela verdadeira imagem de si mesmo. O que ele é, só ele  pode ver. "  Há uma clara ligação entre o que é externo e o que é interno no homem e é sempre nosso estado interior que atrai nossa vida exterior. Portanto o indivíduo deve sempre começar a partir de si mesmo.

É o nosso próprio Eu que precisa ser mudado.

O homem, em sua cegueira, está bastante satisfeito consigo mesmo, mas sinceramente não gosta das circunstâncias e das situações de sua vida, ignorando que a causa de seu desprazer não está na condição ou na pessoa com quem está descontente, mas em seu próprio ser, do qual ele tanto gosta. Não percebendo que "ele está cercado pela verdadeira imagem de si mesmo" e que "o que ele  é, só ele pode ver", ele se choca quando descobre que sempre foi o seu próprio engano que o fez se enganar com as outras pessoas.

A auto-observação revelaria este auto-engano dentro de todos nós e ela precisa ser praticada antes que possa haver qualquer transformação em nós mesmos. Neste momento tente perceber o seu estado interior. A que pensamentos você está se permitindo? Com que sentimentos você está se identificando?

Você precisar se comportar com muito cuidado quando está dentro de si mesmo.
 
A maioria de nós pensa que é bondoso e amoroso, generoso e tolerante, indulgente e nobre, mas uma observação acrítica de nossas reações à vida irá revelar um Eu que não é nada cordial e afetuoso, generoso e tolerante, indulgente e nobre. E é este Eu que devemos primeiro aceitar e, em seguida, começar a mudar.

Renascer depende de um trabalho interno sobre si mesmo. Ninguém pode renascer sem alterar este Ëu. Toda vez que um conjunto inteiramente novo de comportamentos entra na vida de uma pessoa, uma mudança de consciência ocorre, ocorre um renascimento espiritual.

Tendo descoberto, através de uma observação acrítica de suas reações à vida, um Eu que precisa ser mudado, agora você pode formular um objetivo. Ou seja, você precisa definir o que você gostaria de ser ao invés do que você realmente, em segredo, é. Com este objectivo claramente definido, você deve observar cada uma de suas  reações a partir deste objectivo.

A razão disto é que todos vivemos em um estado definido de consciência, que já descrevemos como a soma total de nossa reações à vida. Portanto, definindo um objetivo, você estará definindo um estado de consciência que, como todos os estados de consciência, terá suas reações à vida. Por exemplo: se um boato ou uma observação descuidada causa uma reação numa pessoa ansiosa e nenhuma reação em outra, isto é a prova positiva de que as duas pessoas estão vivendo em dois estados diferentes de consciência.

Se você definir como seu objetivo ser um indivíduo nobre, generoso, seguro e gentil - sabendo que todas as coisas são apenas estados de consciência - você pode facilmente dizer se você está sendo fiel a seu objetivo na vida, simplesmente observando suas reações aos acontecimentos da vida diária. Se você for fiel aos seus ideais, as suas reações estarão em conformidade com o seu objetivo, pois você estará identificado com o seu objetivo e, portanto, estará pensando a partir de seu objetivo. Se suas reações não estiverem em harmonia com seu ideal, é sinal certo de que você está separado de seu ideal e está apenas pensando nele. Assuma que você é o ser adorável que quer ser e observe suas reações ao longo do dia em relação a esta hipótese, pois suas reações irão dizer-lhe em que estado está operando.

É quando o terceiro fundamento - Desapego - entra em cena Tendo descoberto que tudo é um estado de consciência tornado visível e tendo definido o estado particular que quer tornar visível, agora começa a tarefa de ingressar neste estado, pois precisamos nos mover psicologicamente de onde estamos para onde queremos estar.
A proposta de praticar o desapego é nos separarmos de nossas atuais reações à vida e nos unirmos à nosso objetivo na vida. Esta separação interior tem de ser desenvolvida pela prática. No começo parece que não temos o poder de nos separarmos de nossos indesejáveis estados interiores, simplesmente porque temos sempre encarado cada estado de alma e cada reação nossa como natural e nos identificamos com elas.

Quando não temos idéia de que nossas reações são apenas estados de consciência dos quais podemos nos separar, damos voltas e voltas no mesmo círculo de problemas - e não os vemos como estados interiores, mas sim como situações exteriores. É praticando o desapego, ou a separação interna, que podemos escapar do círculo habitual de nossas reações à vida. É por isso que devemos formular um objetivo e ficar em constante comunicação com este objetivo.

O ensinamento começa com a auto-observação e, em segundo lugar, com a pergunta: "O que você quer?" E, então você se ensina o desapego a todos os estados negativos e o apego ao seu objetivo. Este último estado – o apego ao seu objetivo - é conquistado quando você incorpora constantemente a percepção do seu desejo realizado.

Precisamos praticar separar-nos de nossos humores e pensamentos negativos em meio à todos os problemas e catástrofes da vida cotidiana. Ninguém pode ser diferente do que é agora, a menos que comece a se separar de suas reações atuais e se identificar com seu objetivo. Se desprender dos estados negativos e assumir a realização de  seu desejo deve ser uma prática constante, em meio à todas as bênçãos e maldições da vida.

O caminho da verdadeira transformação encontra-se no meio de tudo o que está acontecendo na vida. Devemos praticar constantemente a auto-observação, pensando a partir de nosso objetivo e nos descolando de nossos estados de espírito e pensamentos negativos, se quisermos ser praticantes da verdade em vez de meros espectadores.

Pratique estes três fundamentos e você vai subir a níveis mais elevados de consciência. Lembre-se sempre, é seu estado de consciência que atrai sua vida.

Comece a subir!

Neville Lancelot Goddard
Pensador Metafísico
(1905_1972)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

só para os raros

Criei esse espaço para escrever algo a mais que roteiros, planilhas de editais, folders para captação e outras tantas coisas inevitáveis - muitas delas cansativas e estressantes - que são minha rotina desde que decidi não prorrogar por outro ano meu contrato de colaborador de novelas na Record, para me lançar definitivamente na gigantesca tarefa de produzir na minha nano produtora, Canto Claro, um macro projeto, Somos Tão Jovens, biopic dos anos de formação de Renato Russo em Brasília.

Esta última semana foi consumidora. Só para a inscrição no edital de Paulínia produzimos qualquer coisa entre 300 e 350 páginas A4 com minuciosas informações sobre os mais variados aspectos técnicos e artísticos do filme.

Ainda bem que no final da semana, num evento da Petrobras na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, o projeto foi anunciado como um dos contemplados pelo empresa, um apoio valioso que praticamente garante nossa filmagem a partir do segundo trimestre de 2011.

Uma das coisas que me fez, por mais uma vez, deixar a televisão pelo cinema, foi o aspecto mecânico da produção de textos para tv, particularmene numa novela, escaletada por um autor principal, em que como escritor eu tinha apenas que desenvolver algumas cenas, recebidas em curtas sinopses, num determinado número de páginas. Embora razoavelmente bem pago, um trabalho muito pouco criativo.

O que torna o cinema mais interessante é a possibilidade de desenvolver, produzir e dirigir um tema da própria escolha e, o que me atrai muito, a oportunidade de sair da frente do computador, para encontrar empresários, banqueiros, atores, músicos, fotógrafos, maquinistas, eletricistas - enfim, sair da minha modesta torre de marfim para as ruas, os espaços, as cidades.

Mas às vezes sinto falta da poesia, da solidão, do devaneio. Para isto criei este espaço, para compartilhar com meus raros seguidores alguma pérolas que fui colhendo pelo caminho. Portanto aí vai a pérola do dia:

Estou morto porque não desejo nada
Não desejo nada porque penso que tenho tudo
Penso que tenho tudo porque não tento dar
Tentando dar vejo que nada tenho
Vendo que nada tenho tento me dar
Tentando me dar vejo que nada sou
Vendo que nada sou desejo vir a ser
Desejando vir a ser começo a viver

René Daumal (1908-1944)

domingo, 12 de dezembro de 2010

fazendo fita

Não tem dúvida que ser cineasta é um troço interessante. Imagima, eu com71 anos bem que podia estar debaixo duma daquelas barracas sombreadas do Posto 6 jogando truco com cavalheiros da minha idade e em vez disto estou aqui, às 23:35 de um domingo, finalizando minha inscrição no Edital de Paulínia, que tenho que entregar amanhã até às 14 hs na dita cuja cidade, portanto pego de manhã ãs 8:23 um avião azul que me levará a Campinas a tempo de completar minha inscrição no prazo devido. Pode ser um pouco cansativo, mas é ou não é melhor do que jogar truco? Bem,  pra mim é, até porque não sei jogar truco. O Caetano disse numa música dele que o artista não envelhece. Talvez não seja bem assim, a gente também envelhece, é claro, mas envelhece de uma maneira mais divertida. E, na minha modesta opinião, não tem nada mais divertido do que criar. E é disso que eu gosto. Criar, escrever, sonhar, enfim, amar.

sábado, 11 de dezembro de 2010

a estrela do gullar

É engraçado, raramente entro numa livraria com um livro em mente, mas parece que daquela montanha de livros que cobrem hoje em dia as prateleiras sempre algum me acena e pede: me leva. Desta vez foi um pequeno livro de poemas do meu amigo Ferreira Gullar, que eu conheço de uma encarnação passada, quando ambos éramos do CPC da Une.

Dos poemas do livro, "Em alguma parte alguma", um me comoveu particularmente e o copio abaixo para vocês:

A ESTRELA

Gatinho,  meu amigo,
fazes ideía do que seja uma estrela?

Dizem que todo esse imenso planeta
    coberto de oceanos e montahas
    é menos que um grão de poeira
    se comparado a uma delas

Estrelas são explosões nucleares em cadeia
numa sucessão que dura bilhões de anos

O mesmo que a eternidade

Não obstante, Gatinho, confesso
que pouco me importa
                 quanto dura uma estrela

Importa-me quanto duras tu,
                   querido amigo,
                   e  esses tus olhos azul-safira
                   com que me fitas

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Eu não sou amigo de um Gatinho e sim de um Cachorrinho, de olhos negros, chamado Tommy, mas faço minhas as palavras do Ferreira.

sábado, 4 de dezembro de 2010

as coisas são o que são

Temos de colocar uma lanterna incidindo sobre nossos pensamentos indelicados referentes à pessoas e situações. Devemos tomar consciência de como nos sentimos, do que desejamos, do que esperamos, de quão terrível julgamos alguém ou nós próprios – da nuvem que encobre tudo. Fazemos como uma pequena lula que produz uma inundação de tinta atrás de si, para que nossos equívocos não sejam detectados. Desse modo logo que acordamos de manhã começamos a esguichar tinta. Qual é a nossa tinta? É nossa preocupação com nós mesmos que sombreia a água à nossa volta. Quando a nossa vida gira exclusivamente em torno de nós mesmos, criamos confusão. Podemos até insistir que não gostamos de contos de fadas à nosso respeito, mas o fato é que gostamos. Alguma coisa dentro de nós fica fascinada com o nosso drama e se apega a ele, confundindo-nos. A prática deve nos conduzir até aquele espaço simples e isento de drama, no qual as coisas são apenas o que são, no qual elas apenas acontecem.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

a solidão e sua porta

Para mim este poema do pernambucano Carlos Pena Filho, que sei de cor há bem uns 50 anos, devia ser um quadrinho na sala de espera de todos os terapeutas deste país. Aí vai:

A Solidão e Sua Porta

(de Carlos Pena Filho)

Quando mais nada resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha

A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório

sábado, 27 de novembro de 2010

como fazer cinema

Aqui em Brasília, onde estou jurado do Festival de Cinema, está rolando no CCCB uma mostra sobre o Alejandro Jodorowsky, que admiro desde que vi El Topo numa sessão à meia noite numa sexta feira de 1971 em NYK. Aliás ofilme só passava num único cinema do East Village, apenas às sextas feiras, apenas à meia noite, por isto condiderado o precursor do filme cult. Do catálogo da exposição tirei este fascinante texto que bem revela o cineasta. teatrólogo. místico. tarólogo. terapeuta chileno, atualmente um cidadão do mundo.

Como Fazer Cinema - Alejandro Jodorowsky

 

1. PRIMEIRA LIÇÃO Sentar-se do amanhecer ao anoitecer na frente de uma árvore sentindo a luz. Voltar por sete dias seguidos e fazer o mesmo.
2. SEGUNDA LIÇÃO Voltar à noite com uma lanterna e iluminar a árvore por infinitos pontos distintos.
3. TERCEIRA LIÇÃO Colocar-se a um quilômetro da árvore. Olhar para ela fixamente e avançar centímetro por centímetro em direção a ela até que, depois de algumas horas, se choque o tronco com o nariz. (As duas primeiras lições servem para desenvolver o sentido da luz. A terceira para desenvolver o sentido da distância).
4. QUARTA LIÇÃO Colocar-se em um interior ou paisagem e mover-se pensando que seu próprio peito fotografa, depois pensando que a sua cara fotografa, depois o sexo, depois as mãos.
5. QUINTA LIÇÃO Coloque-se em um lugar e sinta que você é o centro dele. Logo sinta que está sempre na superfície ao redor do lugar. Ao final rompa a idéia de centro e superfície. Está aí, tudo está em você e fora de você ao mesmo tempo. Você é a parte do lugar. Existe o lugar. Você desapareceu!
6. SEXTA LIÇÃO Procurar a cor que não tem cor. Pegue uma página branca e veja suas cores. Pegue uma página preta e veja suas cores. Veja as cores de um vidro transparente. Descubra o arco-íris em um pedaço de terra, em um cuspe, em uma folha seca. Expresse a cor com materiais sem cor. Na verdade lhe pergunto, você sabe quantas cores tem a pele da sua cara?
7. SÉTIMA LIÇÃO Sinta as pontas dos seus dedos como se fossem a ponta da sua língua. Apóie as pontas dos dedos nos objetos do mundo pensando que são frágeis, que uma pequena pressão pode quebrá-los. Peça-lhes permissão antes de tocá-los. Antes de apoiar os dedos na sua superfície, sinta como penetra na sua atmosfera. Aprenda a sentir e a acariciar com respeito. Qualquer ação que faça no mundo com as suas mãos ou corpo pode ser uma carícia.
8. OITAVA LIÇÃO Pense que os atores vivem dentro de um corpo como centro de uma caverna. Peça-lhes que não gritem com a sua boca, e sim dentro de sua boca. Que não se expressem com a cara, e sim com vibrações. Viva debaixo da superfície. A superfície do rio não se move, mas você sabe que leva correntes profundas.
9. NONA LIÇÃO Não importam os movimentos de câmera. Ela deve mover-se somente quando não puder ficar quieta. Você leva o alimento na mão. A câmera é um cão. Faça-a seguir com fome o alimento. A fome faz com que o animal se apague. Não há cão, não há fome, não há câmera. Há acontecimentos. Você nunca pode comer a maçã inteira no mesmo instante. Tem que dar mordiscadas. Enquanto come, você tem uma parte. Deve saber que o pedaço que mastiga não é a maçã inteira. Você nunca pode ter a maçã inteira na boca porque por maior que seja a sua boca, não pode caber nela o fruto que é parte da árvore nem a árvore que é parte da terra. A tela é a sua boca. Ali entram pedaços. Partes do acidente. Não tente trabalhar com planos absolutos. Não creia que existe o plano melhor. Se pode morder a maçã em qualquer lugar. Se a maçã é doce, não importa onde você comece a comê-la. Preocupe-se com a maçã, não com a sua boca. Cineasta! Antologia de fragmentos, você também tem um fragmento, seu filme inconcluso, você é parte, é continuação. Não há encerramentos. Mate a palavra fim. Você começará um filme no dia em que ser conta que você simplesmente continua. Não procure o prestígio. Desdenhe os efeitos. Não adorne. Não pense o que a imagem vai produzir. Não a procure. Receba as imagens. A caça está proibida. A pesca está permitida.
10. DÉCIMA LIÇÃO Nunca trabalhe no papel seus movimentos de câmera. Chegue aos lugares pensando que você não irá mover a câmera, que não irá iluminar, que não irá inventar. Não crie cenas, crie acidentes. Não crie esses acidentes em direção à câmera. Você não está fazendo um filme, você está metido em um acidente. Parte do acidente são seus movimentos de câmera.
11. DÉCIMA PRIMEIRA LIÇÃO E de repente, o grande prazer. Um plano pensado com a câmera opinando com luz artificial, com “atuações” (uma verdadeira sobremesa!). De verdade lhe digo, por este caminho você pode chegar a fazer filmes de Hollywood dos anos 40. Se você quer ser um grande cineasta de vanguarda, volte a filmar “E O Vento Levou”, exatamente igual, com atores de corpos gêmeos aos de Clark Gable e Vivian Leigh. Se conseguir que seu filme não possa ser distinguido do original, você passou à história.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

diretamente do planalto central

Cheguei hoje de manhã em Brasília, onde estou sendo jurado do Festival de Cinema. Chegar de avião em Brasília, ver lá de cima o cerrado e de repente uma cidade retro-futurista surgindo do meio do nada, é sempre mágico..

Brasília para mim é cinema. Venho aqui desde 1966, com meu primeiro curta, Heitor dos Prazeres. Depois disso voltei várias vezes, com Ver Ouvir, Copacabana me Engana, A Rainha Diaba - enfim, muitos filmes meus participaram deste festival.

A cidade está calma e silenciosa. Não vi nenhum carro nem nenhum ônibus sendo incendiado nas ruas. Porém mal liguei a TV no quarto do hotel e dei de cara com a hecatombe do Rio.

Olha, o JK foi esperto, imagina se a capital do país fosse aí, nessa cidade refém de traficantes ensandecidos?

Não tenho a menor vontade de assistir Tropa de Elite 2? Para que, se o filme já está nas ruas? Nós somos todos personagens dele.

Quando terminar o Festival estou com vontade de ir ao Palácio do Alvorada e pedir asilo político para o Lula. Que ele me mantenha em Brasília até o dia que a guerrilha urbana carioca chegar ao fim.

Será que esse dia vai chegar?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

diretamente da frente de batalha

Estou escrevendo de casa, com a Band 49 ligada, acompanhando o relato do Boechat e de seus ouvintes sobre os incêndios que aterrorizam a cidade. Estou com medo de sair de casa, pois moro na Usina e meu trajeto fatalmente incluirá a Paulo de Frontin, onde esta madrugada um ou mais carros foram incendiados.

Aparentemente a Paulo de Frontin é uma das áreas de conflito, tanto como a Praça General Osório, Laranjeiras, Brás de Pina - enfim, a cidade é uma área de conflito. O chefe da polícia mandou avisar que isto acontece porque os bandidos estão aterrorizados, mas minha impressão é outra. Parece que os bandidos estão agindo com muita calma e muita frieza, com o simples objetivo de aterrorizar a população. Ou seja, me desculpem, doutor chefe da polícia e demais autoridades, municipais, estaduais e federais, quem está aterrorizada é a pupulação desta cidade uma vez dita "maravilhosa".

A impressão é que esta é uma cidade fadada ao desastre. Enquanto o prefeito recupera o cais do porto, imitando uma recuperação ao estilo novaiorquino, enquanto o governador blinda a Zona Sul e a Tijuca, para atender aos compromissos assumidos em função da próxima Copa do Mundo, as ruas continuam esburacadas, os sinais de trânsito continuam desprezados, os ônibus vazios continuam a atravancar as ruas, o metrô continua um experimento de como transformar um vagão numa irrespirável lata de sardinhas.

Minha vontade é me refugiar no meu sítio em Friburgo, mas temo ter o carro incendiado no trajeto, na temível Linha Vermelha. O que fazer? Acho que hoje o melhor é ficar em casa, na Usina do Borel e da Formiga "pacificados", lendo Rubem Braga e José Carlos de Oliveira, para, pelo menos na ilusão, sentir que ainda moro na Cidade Maravilhosa...

Maravilhosa? Quem dera...

domingo, 21 de novembro de 2010

71+1 dia

Esse négócio de resolver ter um blog cria uma certa obrigação, né? Tem que escrever alguma coisa todo dia. Hoje é o primeiro dia do meu septuagésimo (será que escreve assim) segundo ano neste planeta.  Com uma visita a Olaria, bairro que eu conhecia muito pouco, ao conjunto dos comerciários, para visitar uma grande figura, o Heitorzinho dos Prazeres. Fizemos um escambo - dei para ele um dvd do meu primeiro filme - Heitor dos Prazeres - sobre o pai dele - e recebi em troca, uma troca muito generosa, um quadro do velho Heitor, uma cabrocha cantando acompanhada por três sambistas. O Heitorzinho é cantor, tem um conjunto, os filhos dele são músicos, o conjunto dos comericários é um lugar muito acolhedor, pacífico e caloroso, o Rio é tão e muito mais do que o que se avista da beira das praias. É curioso, me impressiona muito o bairrismo da Zona Sul, que acha que o outro lado do Rebouças é uma terra de ninguém. Uma das grandes coisas que me aconteceu  foi por acaso ter deixado a ZS pela Tijuca,  perdi um pouco da cegueira à beira mar, comecei a enxergar melhor a cidade. O Rio é muito maior que a Ipanema do Tom ou o Leblon do Manoel Carlos, muito maior e muito mais rico e muito mais vivo do que os míticos bairros à beira mar.Viva Olaria!

sábado, 20 de novembro de 2010

71 anos neste planeta

Nem parece que já se foram 71 anos. Eu cheguei nesse planeta faz tão pouco tempo, em novembro de 39, parece que estava começando uma guerra mundial, a segunda, se não me engano...

Minha sensação é que já vivi muitas vidas nestes 71 anos. Que encarnei e reencarnei aqui mesmo nessa atual vida. O Antonio que filmou Ver Ouvir ainda deve estar por aqui, mas eu converso muito pouco com ele. E o da Rainha Diaba? Será que continua espirrando sangue em volta?

Vidas passadas não movem moinhos. Movem nuvens...

Se os quânticos estiverem certos num desses universos bifurcados eu sou um geofísico. Em outro talvez um baterista de jazz. Em outro um romancista - ou um pianista. Tem todos esses caras aqui dentro, mas muitos nunca vão sair detrás do biombo.

É engraçado, 71 na pista, de repente com idéia escrever um blog. Será que algum dia alguém vai ler? Será que algum dia vou me lembrar que inventei um blog?

Estou lendo um livro do Stephen Hawkings onde ele faz muitas perguntas:

Por que existe alguma coisa em vez de nada?
Por que nós exisitimos?
Por que este conjunto particular de leis e não algum outro?

Os quânticos são pirantes. Agora descobriram que existem 21 dimensões. E nós aqui, vivendo em três ou quatro...