sábado, 12 de fevereiro de 2011
VIDA QUE SEGUE
Esse blog é muito esporádico. Deve ser por isso que só tenho oito seguidores. Puxa, gente, me segue. Meu filho de 20 anos tem uma camiseta preta onde está escrito: "genius by birth, slacker by choice." Eu acho que também ando meio assim, preguiçoso. Também não é mole ser um triplo hifenado (ou hifenizado?) produtor-roteirista-diretor. Três hífens é um pouco demais, não é não? Ainda mais que eu levo no capricho, mais ou menos não conjugo. Engraçado, acho que eu tenho alguns problemas de identidade. Quando moleque queria ser músico de jazz, carregava a bateria do João Palma de lá pra cá, ficava horas ouvindo o Kumbuka no piano e o Henrique Grosso no baixo, virava as noites no escuro no chão da sala do Robert Celérier ouvindo o Miles ou Monk que ele, comissário de bordo da Air France, tinha acabado de trazer de Paris, domingo de tarde era jazz com Pernod e Dexamil no Little Club. Mas músico era um sonho impossível que eu só sonhava na frente do espelho fazendo solos incríveis junto com o Coltrane. Minha segunda identidade sonhada era de romancista, lia tudo que me caía nos olhos, de Camus a Sartre a Mailer a Steenbeck a Faulkner a Scheckley a Asimov a dos Passos, claro que eu ia ser um escritor,mas não tinha nenhuma Escola Nacional de Romancistas então fiz vestibular para Geologia, depois de quatro anos fiquei geólogo e fui escrever teatro de rua no Centro Popular de Cultura. Tudo a ver, não é? Aí um dia li no jornal que o Arne estava chegando no Rio para ensinar técnica de cinema e fui parar lá, com o Salvá, o Saldanha, o Domingos, o Jabor, o Escorel, um bando de gente que eu nem mais lembro o nome e de repente eu era quase um cineasta, até que li no jornal uma reportagem sobre um velho sambista que tinha atelier num cortiço e pintava quadros de um mundo que só existia nas lembranças dele, daí fiz o Heitor, comecei a curtir arte, sonhar em se pintor nem chance, fiquei amigo do Roberto, do Antonio e do Rubens e fizemos Ver Ouvir e de repente foi um susto, ficou bom demais. O Jodorowsky diz que todo filme é um acidente, Ver Ouvir foi um acidente feliz. Aí vieram outros filmes, Scliar, Gal, Mutantes, Copacabanas e Rainhas, Capoeiras e Espelhos, de repente ficou chato, todo filme era um novo começo e eu cansado de peças únicas resolvi traabalhar em série, ter patrão e fui para a televisão. Televisão é legal, é que nem servir o exército, deveria ser obrigatório para deixar de se sentir especial e ver que é mais um fabricante de sons e imagens. Bem, também cansou e back to the movies, um filme sobre o Zico, outro sobre meu filho Daniel, que não é o Daniel Filho, outro sobre um gatão até que, de repente, lá do céu ou de algum universo paralelo destes que os quânticos dizem que pululam por aí, o Renato me aponta o dedo e diz vai ser você e eu, que nunca tinha comprado um disco da Legião Urbana, estou aqui aprendendo a amar o Russo para fazer um filme tão bonito quanto ele merece. Vida que segue. Quem mandou ter três hífens?
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