sexta-feira, 8 de abril de 2011

O HOMEM QUE ESTUDAVA IOGA - Norman Mailer

Uma das boas maneiras de treinar a escrita  é traduzir. Eu costumo, como exercício de linguagem e quem sabe de humildade, traduzir por conta própria, para depois guardar no armário,  textos de escritores de outras nacionalidades que admiro. Um deles é o extraordinário Norman Mailer. Dele estou traduzido nas (raras) horas vagas uma pequena novela, THE MAN WHO STUDIED IOGA, texto que me intriga desde que o li, provavelmente uns 40 anos atrás.. Hoje, nem seu bem o motivo, deu vontade de postar a tradução da abertura da novela. Me digam, Mr. Mailer é ou não é demais?


O HOMEM QUE ESTUDAVA IOGA
de Norman Mailer
trad. Antonio Carlos da Fontoura

Eu me apresentaria se não fosse inútil. Meu nome de ontem à noite não seria o mesmo de hoje à noite. Por enquanto, então, deixem-me apenas dizer que estou pensando em Sam Slovoda. Obrigatoriamente eu o estudo, Sam Slovoda, que não é nem ordinário nem extraordinário, não é jovem nem ainda é velho, não é alto nem é baixo. Ele está dormindo e é adequado descrevê-lo agora, pois como a maioria dos humanos Sam prefere dormir a não dormir. Ele é um suave e agradável senhor que acabou de completar quarenta anos. Se o topo da sua cabeça já revela uma pequena careca, em compensação Sam alimenta a vaidade de um bigode. Geralmente quando está acordado ele se comporta agradavelmente e, ao menos com estranhos, aparenta ser amistoso, tolerante e cordial. O fato é que, como a maior parte de nós, Sam está repleto de inveja, lotado de desprezo, é um fofoqueiro, um homem que fica satisfeito quando percebe que os outros são tão infelizes quanto ele e ainda assim - isso é o pior a ser dito - ele é um homem decente. Ele é melhor que a maioria. Ele preferiria ver um mundo mais igualitário, repudia preconceitos e privilégios, tenta não ferir ninguém, ele quer que gostem dele. Vou ainda mais longe. Ele tem uma virtude importante - não está satisfeito consigo mesmo e gostaria de ser melhor. Gostaria de se libertar da inveja, da embaraçosa necessidade de falar mal de seus amigos, gostaria de amar mais as pessoas, especificamente ele gostaria de amar sua esposa mais e amar suas duas filhas sem a atormentadora embora inevitável impressão de ter, por conta delas, aprisionado sua vida na teia poeirenta das responsabilidades domésticas e da batalha diária por mais grana.

Quantas vezes ele não se diz com desprezo que possui a crueldade de um homem gentil e fraco.

Deixem-me dizer que não desgosto de Sam Slovoda, apenas estou desapontado com ele. Já tentou coisas demais e nunca de coração inteiro. Queria ser um sério romancista e agora simplesmente se compraz com a ambição, gostaria de ocupar alguma posição significativa e agora é, talvez temporariamente, um atarefado roteirista de estórias em quadrinhos, quando jovem tentou ser um boêmio e em vez disto arrumou esposa e família. De seu apetite por uma variedade de experiências novas posso dizer que apenas é igualado por seu medo de novas pessoas e novas situações.